Uso de inibidor de bomba em lactentes: Uma análise crítica

Nos últimos 10 anos houve um aumento considerável, da ordem de 11 vezes, na prescrição de IBPs (inibidores de bomba de próton) para lactentes. Considera-se que a utilização dessa classe de medicamentos deva ser confinada àqueles casos em que seja constatada a doença do RGE, ou seja, refluxo que acarreta sintomas clínicos expressivos, repercussão nutricional ou presença de complicações.
O manuseio inicial de um lactente que apresenta regurgitações, crises de choro e arqueamento de tronco, mas que mantém ganho ponderal adequado, inclui inicialmente tratamento conservador, orientando-se mamadas mais frequentes em volumes menores, medidas posturais e emprego de fórmulas AR. Segundo posicionamento das Sociedades Internacionais de Gastroenterologia Pediática (NASPGHAN/ESPGHAN), caso não ocorra evolução satisfatória devem ser investigadas anormalidades anatômicas do trato digestório e possibilidade de alergia alimentar antes da prescrição de IBP.
Em um artigo recentemente publicado, os autores fazem uma análise crítica da ação de IBPs em lactentes, na sua maioria entre 1 e 12 meses. A análise envolveu 205 pacientes com sinais e sintomas clínicos de DRGE. Os IBPS utilizados foram esomeprazol, lansoprasol, pantoprazol e omeprazol. Os estudos foram randomizados, cegos e placebo-controlados, com exceção do omeprazol, que envolveu o regime de diferentes dosagens. O instrumento de análise foi o de pontuação de escore de sintomas de RGE (modificado por Orenstein et al.), composto por 12 questões. Nos estudos com esomeprazol, pantoprazol e lansoprazol houve mensuração do pH
intragástrico, que demonstrou aumento do pH intragástrico e da porcentagem de tempo em que o mesmo permaneceu acima de 4. Os dados obtidos comprovam que os IBPs inibiram a secreção ácida de forma consistente, porém os resultados, quando confrontados com os de placebo, demonstram os mesmos índices em relação ao número de regurgitações, às horas de choro e à irritabilidade, que decresceram na mesma proporção nos grupos de tratamento e de placebo.
Os autores salientam que boa parte dos sintomas de RGE em lactentes de poucos meses de idade são condicionados pelo maior número de relaxamentos transitórios do esfíncter esofágico inferior e pela exposição do material refluído à mucosa esofágica, porém na maioria das vezes não são ácido-dependentes.
Os resultados acima expostos estão em concordância com os novos guidelines de manuseio de DRGE na infância. A utilização de IBPs deve ser reservada aos casos mais graves, com nítida desaceleração do ganho ponderal e comprovação endoscópica de ocorrência de DRGE. Os autores ainda apontam para as falhas do escore clínico e a baixa sensibilidade e especificidade da pHmetria esofágica para o diagnóstico definitivo de DRGE nessa faixa etária.
Veja mais detalhes em http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21946832. Artigo de referência:
Proton Pump Inhibitor Use in Infants: FDA Reviewer Experience
Li-Lun Chen et al. JPGN 2012;54:8-14
Se gostou deste post, também poderá gostar de