Uso de Fórmula Infantil parcialmente hidrolisada em lactentes com e sem risco de manifestações alérgicas

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Alergias
Uso de Fórmula Infantil parcialmente hidrolisada em lactentes com e sem risco de manifestações alérgicas (publications)

Dr. Bruno Paes Barreto, pediatra especialista em alergia e imunologia comenta uma recente meta-análise que avaliou a redução no risco para o desenvolvimento da dermatite atópica em lactentes que utilizaram fórmula parcialmente hidrolisada, à base de leite de vaca.

A asma, a rinite alérgica, as alergias alimentares e a dermatite atópica são reconhecidamente as principais doenças atópicas, as quais espelham em suas manifestações clínicas um mecanismo imunológico, geralmente mediado por anticorpos da classe IgE. Mecanismos estes que traduzem um substrato genético, que por sua vez é passível de transmissão, geração após geração.

Nos últimos 40 anos, a prevalência das doenças atópicas vem crescendo, mantendo-se em níveis elevados, na última década, nos países desenvolvidos e ainda em crescimento, naqueles em desenvolvimento. Por isso, estratégias que possam reduzir o desenvolvimento destas patologias, sobretudo em grupos de risco, são sempre muito bem-vindas. Como por exemplo, a utilização de intervenções nutricionais em lactentes de risco para alergia, que estejam impossibilitados de receberem aleitamento materno exclusivo. Neste sentido, uma recente meta-análise avaliou a redução no risco para o desenvolvimento da dermatite atópica em lactentes que utilizaram fórmula parcialmente hidrolisada, à base de leite de vaca (Szajewska, 2017).

Muitos outros estudos já haviam tentado mostrar tal correlação, no entanto apresentaram resultados insignificantes. Inclusive o estudo de Szajewska toma como base, revisão anterior, dos mesmos autores, porém acrescida de duas grandes coortes (Estudo GINI e Estudo MACS), que incrementaram quase 3000 crianças à amostra. Além do que, seguindo as recomendações dos órgãos regulatórios europeus (EFSA - European Food Safety Authority) e a essência de como se deve realizar uma meta-análise, o critério de inclusão se baseou na comparação de estudos que utilizaram exatamente a mesma fórmula parcialmente hidrolisada (FPH), com mesmo substrato protéico, produzida apenas por uma indústria (Nestlé). Diminuindo assim o viés básico neste tipo de análise, que seria comparar elementos não-comparáveis. Assim, os resultados mostraram redução significativa na incidência acumulada para Dermatite Atópica nos grupos que receberam FPH comparada com aqueles que receberam fórmula integral de leite de vaca, sobretudo para os subgrupos na faixa etária de 0 a 5-6 anos. Para as demais doenças alérgicas, a análise mostrou, também, redução no risco em favor das crianças que utilizaram FPH comparadas com as que usaram fórmula com proteína intacta, sobretudo no intervalo de avaliação de 0 a 15 anos. Estes resultados foram ratificados por recente e extensa revisão de literatura realizada na Universidade de Bruxelas pelo professor Yvan Vandenplas (Vandenplas Y., 2017), que corrobora os dados anteriormente citados e reafirma que os objetivos encontrados com um tipo de FPH não podem ser extrapolados para as outras FPH, mantendo assim, a identidade e especifidade do produto.

Tais fórmulas parcialmente hidrolisadas são produzidas com o objetivo de se reduzir o grau de alergenicidade do produto (quantidade de epítopos capazes de induzir sensibilização), mantendo, no entanto, certa quantidade de antígenos (epítopos) capazes de reagir imunogenicamente e induzir resposta de tolerância.

Por isso, baseado nas características desta fórmula parcialmente hidrolisada, especificamente, e seguindo um racional teórico coerente, sugere-se, também, o uso como fórmula de rotina, conforme fluxograma abaixo (Figura 1), mesmo naquelas crianças sem risco direto para doença atópica, já que em torno de 20% desenvolvem alergias mesmo na ausência de risco genético (Vandenplas Y., 2017). Em conclusão, a despeito das críticas que ainda existem sobre a utilização de fórmulas parcialmente hidrolisadas na prevenção de alergia, sobretudo na questão relacionada a custo-benefício, acredito que os resultados descritos acima falam por si só, sobretudo no que diz respeito a metodologia aplicada no estudo da Szajewska e a possibilidade de se ter analisado estudos com apenas um tipo de fórmula. E, exatamente, pensando em custo é que acredito na efetividade desta prevenção, já que o custo direto e indireto será muito maior caso estas crianças, com risco ou não para atopia, desenvolvam doença alérgica, as quais trariam além do prejuízo da enfermidade, per se, a necessidade de utilização de fórmulas mais elaboradas ainda, como as extensamente hidrolisadas, além dos medicamentos para crises, que agregariam um valor muito maior a este cenário.

A asma, a rinite alérgica, as alergias alimentares e a dermatite atópica são reconhecidamente as principais doenças atópicas, as quais espelham em suas manifestações clínicas um mecanismo imunológico, geralmente mediado por anticorpos da classe IgE. Mecanismos estes que traduzem um substrato genético, que por sua vez é passível de transmissão, geração após geração.

Nos últimos 40 anos, a prevalência das doenças atópicas vem crescendo, mantendo-se em níveis elevados, na última década, nos países desenvolvidos e ainda em crescimento, naqueles em desenvolvimento. Por isso, estratégias que possam reduzir o desenvolvimento destas patologias, sobretudo em grupos de risco, são sempre muito bem-vindas. Como por exemplo, a utilização de intervenções nutricionais em lactentes de risco para alergia, que estejam impossibilitados de receberem aleitamento materno exclusivo. Neste sentido, uma recente meta-análise avaliou a redução no risco para o desenvolvimento da dermatite atópica em lactentes que utilizaram fórmula parcialmente hidrolisada, à base de leite de vaca (Szajewska, 2017).

Muitos outros estudos já haviam tentado mostrar tal correlação, no entanto apresentaram resultados insignificantes. Inclusive o estudo de Szajewska toma como base, revisão anterior, dos mesmos autores, porém acrescida de duas grandes coortes (Estudo GINI e Estudo MACS), que incrementaram quase 3000 crianças à amostra. Além do que, seguindo as recomendações dos órgãos regulatórios europeus (EFSA - European Food Safety Authority) e a essência de como se deve realizar uma meta-análise, o critério de inclusão se baseou na comparação de estudos que utilizaram exatamente a mesma fórmula parcialmente hidrolisada (FPH), com mesmo substrato protéico, produzida apenas por uma indústria (Nestlé). Diminuindo assim o viés básico neste tipo de análise, que seria comparar elementos não-comparáveis. Assim, os resultados mostraram redução significativa na incidência acumulada para Dermatite Atópica nos grupos que receberam FPH comparada com aqueles que receberam fórmula integral de leite de vaca, sobretudo para os subgrupos na faixa etária de 0 a 5-6 anos. Para as demais doenças alérgicas, a análise mostrou, também, redução no risco em favor das crianças que utilizaram FPH comparadas com as que usaram fórmula com proteína intacta, sobretudo no intervalo de avaliação de 0 a 15 anos. Estes resultados foram ratificados por recente e extensa revisão de literatura realizada na Universidade de Bruxelas pelo professor Yvan Vandenplas (Vandenplas Y., 2017), que corrobora os dados anteriormente citados e reafirma que os objetivos encontrados com um tipo de FPH não podem ser extrapolados para as outras FPH, mantendo assim, a identidade e especifidade do produto.

Tais fórmulas parcialmente hidrolisadas são produzidas com o objetivo de se reduzir o grau de alergenicidade do produto (quantidade de epítopos capazes de induzir sensibilização), mantendo, no entanto, certa quantidade de antígenos (epítopos) capazes de reagir imunogenicamente e induzir resposta de tolerância.

Por isso, baseado nas características desta fórmula parcialmente hidrolisada, especificamente, e seguindo um racional teórico coerente, sugere-se, também, o uso como fórmula de rotina, conforme fluxograma abaixo (Figura 1), mesmo naquelas crianças sem risco direto para doença atópica, já que em torno de 20% desenvolvem alergias mesmo na ausência de risco genético (Vandenplas Y., 2017). Em conclusão, a despeito das críticas que ainda existem sobre a utilização de fórmulas parcialmente hidrolisadas na prevenção de alergia, sobretudo na questão relacionada a custo-benefício, acredito que os resultados descritos acima falam por si só, sobretudo no que diz respeito a metodologia aplicada no estudo da Szajewska e a possibilidade de se ter analisado estudos com apenas um tipo de fórmula. E, exatamente, pensando em custo é que acredito na efetividade desta prevenção, já que o custo direto e indireto será muito maior caso estas crianças, com risco ou não para atopia, desenvolvam doença alérgica, as quais trariam além do prejuízo da enfermidade, per se, a necessidade de utilização de fórmulas mais elaboradas ainda, como as extensamente hidrolisadas, além dos medicamentos para crises, que agregariam um valor muito maior a este cenário.