Transfusão sanguínea em recém-nascidos pré-termo e Enterocolite Necrosante

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Prematuridade Benefício da nutrição no manejo de doenças Crescimento e Desenvolvimento
Transfusão sanguínea em recém-nascidos pré-termo e Enterocolite Necrosante (publications)

Dra. Cléa Rodrigues LeoneA Enterocolite Necrosante (ECN) constitui uma das patologias mais graves que podem ocorrer em recém- nascidos pré-termo, especialmente nos mais imaturos, com importantes repercussões sobre a mortalidade dela decorrente e o neurodesenvolvimento futuro.

Muitos avanços têm sido feitos em relação ao conhecimento relativo aos mecanismos fisiopatológicos desse processo, bem como à identificação de fatores de risco e às estratégias para sua prevenção. Apesar disso, a incidência de ECN encontra-se em 7% dos menores de 1.500 g nos Estados Unidos, enquanto a mortalidade por ECN encontra-se em 15% a 30%, sendo mais elevada nos RN mais imaturos, com menores pesos ao nascimento e que tenham necessitado de intervenção cirúrgica.

Trata-se de uma doença inflamatória intestinal, com etiologia multifatorial, na qual estão envolvidos: predisposição genética, imaturidade intestinal e desbalanço de tônus microvascular, alimentação pós-natal, além de presença de colonização intestinal anormal e elevada reação imunológica de mucosa intestinal, que estimula uma exagerada reação pró-inflamatória contra bactérias patogênicas.

Estudos mais recentes têm identificado uma associação entre a realização de transfusão sanguínea com células vermelhas (TS) em recém-nascidos pré-termo muito imaturos, após 2 semanas de vida, e ocorrência de ECN entre 2 e 48 horas após o procedimento, mais frequentemente próximo a 12 horas.

A esse respeito, estudo de coorte recentemente publicado no Pediatrics analisa a ocorrência de 122 (5,3%) casos de ECN em 2.311 recém- nascidos de muito baixo peso em Delaware (USA), dos quais 33 (27%) associaram-se a TS. Após análises com base em diferentes modelos multivariados, obteve-se um odds ratio (razão de chance) de desenvolver ECN após TS em comparação aos que não a receberam de 2,1, com intervalo de confiança de 95% de 1,1 a 4,3, após controle de muitas variáveis. A ECN ocorreu, em média, em 48 horas após a TS. Trata-se de uma das maiores casuísticas sobre esse tema, que confirma essa associação. Os autores concluem, no entanto, que esse estudo não permite determinar se a TS participou como um fator dentre os demais na fisiopatologia da ECN ou se constitui uma consequência de outro fator participante desse processo.

Veja mais detalhes em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21402638

Artigo referência

Paul DA, Mackley A, Novitsky A, Zhao Y, Brooks A, Locke RG. Increased Odds of Necrotizing Enterocolitis after Transfusion of Red Blood Cells in Premature Infants. Pediatrics 2011;127:635-641.