Síndromes Autoinflamatórias como causa de febre periódica em crianças

O diagnóstico etiológico da criança com febre de origem indeterminada é um desafio para o clínico. Destacam-se as doenças infecciosas, as neoplásicas e as inflamatórias/autoimunes. Neste último grupo estão incluídas as síndromes autoinflamatórias, caracterizadas por episódios periódicos de febre associados a sintomas inflamatórios sistêmicos. As manifestações clínicas combinam artrite, serosite (pleurite/pericardite), inflamação ocular, inflamação no sistema nervoso central, rash cutâneo, entre outras. A duração e a frequência da febre variam de uma doença para a outra, e na maioria delas o início dos sintomas é observado logo nos primeiros meses de vida. O diagnóstico precoce é necessário, pois as complicações a médio e longo prazo podem ser irreversíveis, com amiloidose secundária, destruição articular e alterações neurológicas.
As síndromes autoinflamatórias são causadas por alterações genéticas (muitas delas já descritas), que levam a uma produção anormal de citocinas e inflamação tecidual persistente. No excelente artigo de revisão publicado no Swiss Medical Weekly Federici, Caorsi e Gattorno descrevem as principais síndromes de maneira clara e objetiva, com ênfase em patogênese, manifestações clínicas e tratamento: Febre Familiar do Mediterrâneo (FFM), Síndrome Hipergamaglobulinemia D, Síndrome Periódica Associada ao Receptor do Fator de Necrose Tumoral (TRAPS), Criopirinopatias (CAPS) e Síndrome de Blau.
De um modo geral observa-se um aumento nas provas de atividade inflamatória nos surtos febris, que voltam
ao normal nos períodos sem febre. No Quadro 1 são apresentadas algumas situações que chamam a atenção para estas síndromes. A realização dos testes genéticos para o esclarecimento diagnóstico ainda é uma dificuldade, uma vez que estes são realizados em poucos centros especializados. Mas este panorama parece estar mudando e em pouco tempo estes exames serão acessíveis na maioria dos casos suspeitos.
Quadro 1. Situações nas quais devemos suspeitar de síndromes autoinflamatórias
- Episódios febris recorrentes, com duração ≥ 3 dias e sem causa aparente
- Doenças inflamatórias sistêmicas com má resposta ao tratamento convencional
- História familiar de quadros febris periódicos sem diagnóstico definitivo
- Febre periódica em filhos de pais com consanguinidade
- Exantemas cutâneos atípicos e persistentes em pacientes com febre de origem indeterminada
O tratamento das síndromes autoinflamatórias varia de uma doença para outra. No caso da FFM o medicamento de escolha é a colchicina, que pode ser utilizada por longos períodos. Na síndrome Hiper-IgD, a corticoterapia é o tratamento de escolha, e alguns pacientes podem responder aos biológicos anti-TNF. Pacientes com TRAPS e síndrome de Blau também respondem de forma variável aos corticosteroides e aos anti-TNF. Já no caso das CAPS, os medicamentos de escolha são o canakinumabe e o anakinra, que atuam o bloqueando a interleucina 1, diretamente envolvida na patogênese. No artigo de revisão selecionado são apresentadas as opções terapêuticas mais atuais.
Artigo de referência:
Federici S, Caorsi R, Gattorno M. The autoinflammatory diseases. Swiss Med Wkly. 2012;142:w13602. Para maiores detalhes acesse: http://www.smw.ch/content/smw-2012-13602/
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