Síndromes Autoinflamatórias como causa de febre periódica em crianças

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Síndromes Autoinflamatórias como causa de febre periódica em crianças (publications)

Dr. Claudio A. LenO diagnóstico etiológico da criança com febre de origem indeterminada é um desafio para o clínico. Destacam-se as doenças infecciosas, as neoplásicas e as inflamatórias/autoimunes. Neste último grupo estão incluídas as síndromes autoinflamatórias, caracterizadas por episódios periódicos de febre associados a sintomas inflamatórios sistêmicos. As manifestações clínicas combinam artrite, serosite (pleurite/pericardite), inflamação ocular, inflamação no sistema nervoso central, rash cutâneo, entre outras. A duração e a frequência da febre variam de uma doença para a outra, e na maioria delas o início dos sintomas é observado logo nos primeiros meses de vida. O diagnóstico precoce é necessário, pois as complicações a médio e longo prazo podem ser irreversíveis, com amiloidose secundária, destruição articular e alterações neurológicas.

As síndromes autoinflamatórias são causadas por alterações genéticas (muitas delas já descritas), que levam a uma produção anormal de citocinas e inflamação tecidual persistente. No excelente artigo de revisão publicado no Swiss Medical Weekly Federici, Caorsi e Gattorno descrevem as principais síndromes de maneira clara e objetiva, com ênfase em patogênese, manifestações clínicas e tratamento: Febre Familiar do Mediterrâneo (FFM), Síndrome Hipergamaglobulinemia D, Síndrome Periódica Associada ao Receptor do Fator de Necrose Tumoral (TRAPS), Criopirinopatias (CAPS) e Síndrome de Blau.

De um modo geral observa-se um aumento nas provas de atividade inflamatória nos surtos febris, que voltam

ao normal nos períodos sem febre. No Quadro 1 são apresentadas algumas situações que chamam a atenção para estas síndromes. A realização dos testes genéticos para o esclarecimento diagnóstico ainda é uma dificuldade, uma vez que estes são realizados em poucos centros especializados. Mas este panorama parece estar mudando e em pouco tempo estes exames serão acessíveis na maioria dos casos suspeitos.

Quadro 1. Situações nas quais devemos suspeitar de síndromes autoinflamatórias

  1. Episódios febris recorrentes, com duração ≥ 3 dias e sem causa aparente
  2. Doenças inflamatórias sistêmicas com má resposta ao tratamento convencional
  3. História familiar de quadros febris periódicos sem diagnóstico definitivo
  4. Febre periódica em filhos de pais com consanguinidade
  5. Exantemas cutâneos atípicos e persistentes em pacientes com febre de origem indeterminada

O tratamento das síndromes autoinflamatórias varia de uma doença para outra. No caso da FFM o medicamento de escolha é a colchicina, que pode ser utilizada por longos períodos. Na síndrome Hiper-IgD, a corticoterapia é o tratamento de escolha, e alguns pacientes podem responder aos biológicos anti-TNF. Pacientes com TRAPS e síndrome de Blau também respondem de forma variável aos corticosteroides e aos anti-TNF. Já no caso das CAPS, os medicamentos de escolha são o canakinumabe e o anakinra, que atuam o bloqueando a interleucina 1, diretamente envolvida na patogênese. No artigo de revisão selecionado são apresentadas as opções terapêuticas mais atuais.

Artigo de referência:

Federici S, Caorsi R, Gattorno M. The autoinflammatory diseases. Swiss Med Wkly. 2012;142:w13602. Para maiores detalhes acesse: http://www.smw.ch/content/smw-2012-13602/

Dr. Claudio A. Len

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