Risco de anemia ferropriva em Recém-nascidos, Pré-termo Tardios

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Risco de anemia ferropriva em Recém-nascidos, Pré-termo Tardios (publications)

Dra. Cléa Rodrigues LeoneOs recém-nascidos pré-termo tardios (RNPT T) são atualmente caracterizados como um grupo de risco dentre os RNPT, principalmente em decorrência do reconhecimento de seu grau de imaturidade ao nascimento, apesar de nascerem no último trimestre de gestação, entre 34 e 36 semanas, motivo pelo qual foram considerados como quase de termo ou próximos ao termo durante muito tempo e tiveram esse risco menosprezado.

Do ponto de vista nutricional, o fato de nascerem antes do termo, os priva do período intrauterino de maior incorporação de nutrientes, particularmente em relação à oferta fetal de ferro (Fe), o que faz com que esses RN nasçam com estoques deficitários desse elemento. Estima-se que no terceiro trimestre de gestação sejam incorporados 75 mg/Kg de Fe e, ao termo, 70-80% do Fe corpóreo esteja localizado nas hemácias.

Essa deficiência ao nascimento é intensificada pelo crescimento acelerado que têm no período pós-natal e pelas perdas decorrentes da coleta de exames laboratoriais, além das dificuldades em receberem uma oferta adequada desse elemento a partir das fontes nutricionais disponíveis, o que eleva o risco de intensificação dessa deficiência de ferro (Fe) e até de anemia ferropriva.

É importante considerar que o Fe é um elemento fundamental para o crescimento celular e desenvolvimento de funções. É responsável pelo transporte e armazenamento de oxigênio, além de exercer funções celulares

críticas, particularmente em sistema nervoso central. Neste, atua no metabolismo energético neuronal e glial, síntese de neurotransmissores e mielinização.

Uma deficiência de Fe irá alterar a estrutura cerebral e neuroquímica, com efeitos sobre a função cognitivo-motora e comportamental. A manutenção desse distúrbio levará a deficiências nessa área cuja correção será muito difícil no futuro.

Portanto, a detecção precoce desse distúrbio será fundamental para um controle mais seguro desse risco e deverá basear-se num esquema de monitorização de biomarcadores específicos e da introdução de suplementações de ferro, quando indicadas.

Tem sido indicada uma monitorização de indicadores do Fe corpóreo em RNPT a partir da terceira semana de ida, por meio da determinação da concentração de Hemoglobina(HB) e Hematócrito(Ht), Reticulocitos(Rt) e Ferritina(Ferr).Nessa ocasião, a detecção de níveis baixos de Hb(< 10 mg/dl), Rt aumentados(>5%) e Ferr baixa(< 140 mg/dl), indicam o início da suplementação de Fe(2 a 4 mg/Kg de Fe), sob a forma de sulfato ferroso por via oral. Essa suplementação deverá ser mantida, pelo menos durante o primeiro ano de vida e os controles deverão ser repetidos quando o RNPT alcança 40 semanas de idade gestacional corrigida(idade gestacional ao nascimento somada À idade cronológica), 2m, 4m, 6m e 12 m pós-termo, para que as doses sejam adequadas a cada situação.

A deficiência de Fe e a anemia ferropriva não corrigidas estão associadas a alterações do neurodesenvolvimento de RNPT T. Sua prevenção constitui a forma mais eficaz de contribuir para um melhor desenvolvimento em longo prazo desses RN de risco.

Link: Yamada RT, Leone C R. Hematological and iron content evolution in exclusively breastfed late preterm newborns. Clinics. 2014; 69(12): 792-8.

http://dx.doi.org/10.6061/clinics/2014 (12)01.

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