A relação entre obesidade e doença do refluxo gastroesofágico

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Crescimento e Desenvolvimento Obesidade infantil
A relação entre obesidade e doença do refluxo gastroesofágico (publications)

Dr. Mauro Sergio ToporovskiObesidade e doença do RGE são afecções comuns na população adulta. A relação entre ambas é bem estabelecida em adultos, sendo que os pacientes obesos com refluxo apresentam percentual maior de falhas com o tratamento antiácido. Em crianças e adolescentes, essa associação é ainda pouco estudada do ponto de vista epidemiológico e clínico. Patel et al1, revisando 230 casos de pacientes pediátricos que foram submetidos a endoscopia e com suspeita de DRGE, não detectaram maior prevalência de esofagite em pacientes com maiores índices de massa corpórea (IMC).

Pashankar et al (2009)2 estudaram 236 crianças e adolescentes entre 7 e 16 anos e observaram que naquelas com IMC superior ao percentil 95 a ocorrência de sintomas de refluxo foi da ordem de 13,1% e nas que apresentavam IMC entre os percentis 5 e 95 foi de 2% (OR: 7,3; 95% IC: 1,7-31). Neste estudo 40 crianças foram classificadas como obesas graves (escore Z >2,7), sendo que nestas os sintomas de RGE estiveram presentes em 20%.

Quitadamo P et al (2012)3 publicaram estudo recente no qual tomaram os dados antropométricos de 153 pacientes pediátricos e adolescentes, com mediana de 8,17 anos. Tomando-se os índices de massa corpórea (IMC), 20,3% foram classificados como obesos e 18,3% como com sobrepeso. Os pacientes foram inquiridos a respeito da presença e frequência de sintomas de RGE (epigastralgia, azia, náuseas, vômitos, regurgitações, estridor laríngeo, rouquidão, tosse e dor de garganta), compondo-se então um escore de sinais e sintomas de

RGE. Sessenta e um por cento (61%) dos obesos apresentaram algum sintoma de RGE nos 2 meses que precederam a consulta médica, enquanto na população normal os sintomas ocorreram em 21,8% da amostra (p<0,005). O escore de RGE foi de 2,9 pontos nos obesos e 0,83 nos não obesos (p<0,005).

Quando tomados os dados da medida da circunferência abdominal (CA), os autores observaram que em pacientes com CA acima do percentil 90 a ocorrência de sintomas de RGE foi da ordem de 62% e quando a CA situou-se entre os percentis 75 e 90 foi de 24% (p<0,005), sendo o escore de RGE igualmente superior nos pacientes com CA maior Em adultos a ocorrência de RGE tem sido mais relacionada à adiposidade central do que ao índice de massa corpórea total, o que não ocorreu nessa amostra em população pediátrica.

Estudos em adultos obesos demonstram maior número de refluxos pós-prandiais, mais duradouros, decorrentes em parte de aumento da pressão intragástrica, diminuição do comprimento do esôfago intra-abdominal e consequente diminuição dos valores pressóricos do esfíncter esofágico inferior (EEI). Não há registros desses parâmetros em estudos pediátricos, porém em países desenvolvidos e mesmo em desenvolvimento a ocorrência de sobrepeso e obesidade é crescente e a relação de ambos com distúrbios da motilidade do trato digestório será motivo de futuros estudos.

Veja mais detalhes em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22437469 Referências Bibliográficas

  1. Patel NR, Ward MJ, Beneck D, et al. The association between childhood overweight and reflux esophagitis. J Obes 2010;2010:136909.
  2. Pashankar DS, Corbin Z, Shah SK, et al. Increased prevalence of gastroesophageal reflux symptoms in obese children evaluated in an academic medical center. J Clin Gastroenterol 2009;43:410-3.
  3. Quitadamo P, Buonavolontà R, Miele E, et al. Total and abdominal obesity are risk factors for gastroesophageal reflux symptoms in children. J Pediatr Gastroenterol Nutr 2012;55:74-7.

Dr. Mauro Sergio Toporovski

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