Recém-nascido, Pré-termo tardio: Etiologia e Morbimortalidade

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Prematuridade Crescimento e Desenvolvimento
Recém-nascido, Pré-termo tardio: Etiologia e Morbimortalidade (publications)

Dra. Lilian dos Santos Rodrigues Sadeck.Nos últimos anos observa-se um aumento progressivo do número de crianças que nascem prematuramente, especialmente no subgrupo dos recém-nascidos denominados pré-termos tardios (RNPTT), definidos como os que nascem com idade gestacional (IG) de 34 a 366/7 semanas, sendo responsáveis por 75% dos bebês prematuros. Atualmente, esse grupo de RN em particular tem sido foco de vários estudos, pois apesar de não apresentarem risco elevado de óbito ou doença grave, quando comparados com os RN prematuros, moderados (IG de 30 a 336/7 semanas) e extremos (IG <30 semanas), os RNPTT são responsáveis por um número considerável de internações em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). As internações são decorrentes da inadequação da transição da vida intrauterina para a neonatal, muitas vezes pela imaturidade fisiológica dos sistemas: respiratório, metabólico, neurológico e imunológico. Eles também apresentam uma taxa elevada de readmissões hospitalares durante o período neonatal.

Estes prematuros “saudáveis” fornecem desafios significativos durante o período neonatal, assim como na evolução em longo prazo. Uma revisão sistemática, publicada em 20111, identificou 22 estudos analisando 29.375.675 crianças. Em comparação com os recém-nascidos a termo (RNT), os RNPTT apresentaram uma morbimortalidade significativamente maior em curto prazo, como síndrome da angústia respiratória (risco relativo [RR]: 17,3), hemorragia intraventricular (RR: 4,9) e morte até 28 dias (RR: 5,9). Após o período neonatal, essas crianças eram mais propensas a morrer no primeiro ano (RR: 3,7) e a sofrer de paralisia cerebral (RR: 3,1).

Em 2012, Tsai et al.2 publicaram um estudo de coorte, retrospectivo, com o objetivo de determinar a prevalência e morbidade dos RNPTT em Taiwan no período de 2008 a 2009. Os autores analisaram 7.998 RN, sendo 6.507 RNT e 1.491 RNPT; desses, 914 (61,3%) com idade gestacional de 34 a 366/7 semanas. A taxa de admissão na UTIN (incluindo a unidade de cuidados especiais) foi maior nos RNPTT quando comparados aos termos (36% vs. 2%) e foi de 74%, 43% e 21% em crianças nascidas em 34, 35 e 36 semanas de IG, respectivamente. Os RNPTT apresentaram maior tempo de internação (17 dias x 10 dias), maior risco de morbidades neonatais, incluindo síndrome da angústia respiratória (2,6% x 0,02%), desconforto respiratório de outras etiologias (16% x 2%), sepse comprovada por cultura (0,7% x 0,2%), hipoglicemia (3,0% x 0,4%), instabilidade de temperatura (0,4% x 0,05%), dificuldade de sucção (2,0% x 0,4%) e hiperbilirrubinemia necessitando de fototerapia (14% x 3%). Apresentaram também maior taxa de readmissão hospitalar (4,4% x 2,3%; p<0,001) e taxa de mortalidade neonatal (0,3% x 0,08%; p=0, 03).

O conhecimento de todos esses dados enfatiza a importância de uma decisão obstétrica criteriosa frente à interrupção da gestação nessa faixa de idade gestacional. O estudo de Gyamfi-Bannerman et al.3 aborda especificamente a etiologia dos nascimentos não espontâneos de RNPTT e sua evolução. O objetivo foi determinar a proporção de partos não espontâneos em RNPTT e classificá-los de acordo com as indicações da interrupção: baseada em evidências (BE) ou não baseada em evidências (NBE) clínicas maternas ou fetais. Trata-se de um estudo de coorte, retrospectivo, incluindo 2.693 partos prematuros com IG de 34 a 366/7 semanas, sendo que 872 (32,3%) foram não espontâneos e desses 494 (56,7%) foram classificados como NBE. Os fatores associados ao parto NBE foram: idade materna (30,0 x 28,6 anos; p<0,001) mais chances de estar grávida de gêmeos (18,8% x 7,9%; p<0,001), ter seguro privado (80,3% x 59,0%; p<0,001) ou ter um segundo fator complicador (27,5% x 10,1%; p<0,001). A taxa de internação em UTIN nos RNPTT nascidos de parto não espontâneo NBE foi de 31%.

Esse grupo de RN merece uma atenção especial durante o período neonatal e também na evolução em longo prazo. Vários estudos vêm demonstrando um risco aumentado de morbimortalidade nesse segmento quando comparado com os RN a termo. Os resultados destes estudos enfatizam a importância da decisão obstétrica criteriosa ao considerar a interrupção da gestação na prematuridade tardia e a necessidade de estabelecer diretrizes clínicas para o cuidado dos RNPTT.

Veja mais detalhes em

  1. Teune MJ, Bakhuizen S, Gyamfi-Bannerman C, et al. A systematic review of severe morbidity in infants born late preterm. Am J Obstet Gynecol. 2011; 205:374.e1-9.

    www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21864824

  2. Tsai ML, Lien R, Chiang MC, Hsu JF, Fu RH, Chu SM, Yang CY, Yang PH. Prevalence and Morbidity of Late Preterm Infants: Current Status in a Medical Center of NorthernTaiwan. Pediatrics and Neonatology (2012) 53, 171e177.

    www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22770105

  3. Gyamfi-Bannerman C, Fuchs KM, Young OM et al. Nonspontaneous late preterm birth: etiology and outcome. Am J Obstet Gynecol 2011; 205:456.e1-6.www.musaeduca.cl/site/lib/revistas/Noviembre2011/Nonspontaneouslatepretermbirthetiologyandoutcomes.pdf