Proteína Ideal: O que é? Para que serve?

Conceitos como “proteína ideal”, “equilíbrio aminoacídico” e “aminoácido limitante”, já de longa data são utilizados na literatura científica relacionada à nutrição de animais de corte. Porém, só nos últimos anos passaram a ser valorizados e aplicados também à nutrição humana, principalmente de crianças nos primeiros anos de vida. Apesar de serem mencionados em estudos sobre alimentação infantil, ainda são termos desconhecidos de uma grande parcela dos profissionais da saúde. Neste contexto, este artigo pretende esclarecer, de forma simples e objetiva, o significado, a importância e a aplicação destes conceitos no cenário nutricional das fórmulas infantis atuais.
Os conhecimentos adquiridos com pesquisas na área de nutrição animal demonstraram que a simples oferta de proteína, mesmo que em quantidade elevada, não é suficiente para assegurar o pleno crescimento e desenvolvimento da massa magra de animais de corte. Pelo contrário, a oferta excessiva de proteínas demonstrou causar efeitos indesejados como alto custo das rações e ganho de peso por aumento de massa gorda, o que não é almejado pela indústria de alimentos. Por outro lado, estes estudos também demonstraram que animais de corte podiam, de forma adequada e rápida, atingir o desenvolvimento máximo da massa magra e, consequentemente, o peso de abate com ingestão proteica mínima, desde que os seus requerimentos aminoacídicos fossem contemplados. Com base nestes resultados é que surgiu o conceito de “proteína ideal”. Por este conceito, uma proteína é considerada “ideal” quando ela fornece, sem faltas ou excessos, todos os aminoácidos essenciais (equilíbrio aminoacídico) para que a síntese proteica necessária ao crescimento e manutenção de um animal possa ser assegurada. Assim, para atingir o pleno crescimento
muscular, de órgãos e tecidos, cada espécie tem os seus requerimentos de aminoácidos e, consequentemente, um padrão de proteína ideal a ser contemplado através da alimentação. Em caso de oferta excessiva, a proteína e os aminoácidos excedentes serão oxidados e convertidos em gordura. Além disto, se a proteína ofertada não apresentar um perfil de aminoácidos adequado à espécie, ou seja, com um ou mais aminoácidos essenciais em teores inferiores aos requeridos, a síntese proteica será interrompida quando esta falta for atingida. Devido a isto, os aminoácidos ainda disponíveis e não utilizados, bem como aqueles já incorporados às frações proteicas parcialmente sintetizadas, serão também oxidados com consequente geração de gordura. Dentre os aminoácidos faltantes, aquele em menor teor na proteína ofertada é o chamado “aminoácido limitante”. É ele que primeiramente impedirá a manutenção da síntese proteica, fazendo com que os aminoácidos remanescentes sejam erroneamente considerados “excedentes”, sendo, portanto, oxidados.
Em nutrição humana estes conceitos têm sido utilizados principalmente na literatura especializada que aborda a alimentação infantil, muitas vezes dificultando o entendimento da importância dos mesmos no contexto atual da obesidade.
Como exemplo de utilização destes conceitos, podemos citar estudos que relacionam o menor ganho de peso e de massa adiposa em crianças alimentadas com leite materno, quando comparadas àquelas alimentadas com leite de vaca integral. Nestes estudos encontram-se implícitos ou explícitos os conceitos aqui abordados, pois a diferença vital observada está justamente nos altos teores proteicos e qualidade da proteína (perfil aminoacídico) ofertada pelas fontes alimentares de origem não humana.
Foi devido a estes estudos que a indústria de fórmulas infantis necessitou adequar (reduzir) o teor proteico de suas formulações para valores mais próximos àqueles encontrados no leite humano, na tentativa de evitar uma oferta excessiva de proteínas e seus efeitos obesogênicos indesejados.
Uma vez que as proteínas utilizadas nas formulações infantis originam-se de proteínas do leite de vaca, que contêm todos os aminoácidos necessários à espécie humana em quantidade abundante, a falta de um ou mais aminoácidos, bem como a presença de aminoácidos limitantes nunca foram preocupações. Pelo contrário, a descoberta de que alguns aminoácidos naturalmente presentes em altas concentrações nas proteínas do soro do leite bovino têm o poder de estimular uma maior liberação de insulina no período pós-prandial fez alertar para a necessidade de outras adequações. Estes aminoácidos (leucina, valina, lisina, isoleucina e treonina), denominados insulinogênicos, estimulam a ocorrência de picos de insulina que, além de ineficazes para a manutenção prolongada de normoglicemia, são responsáveis pelo aumento dos depósitos de gordura corporal, podendo colaborar para o desenvolvimento da obesidade.
Devido a isto, algumas fórmulas infantis atuais já apresentam os teores destes aminoácidos corrigidos para quantidades menores, mais próximas às encontradas no leite materno.
Com base nestes conhecimentos, atualmente é possível escolhermos fórmulas infantis que utilizam o conceito de “proteína ideal” em suas formulações, ou seja, com teor e perfil de aminoácidos mais próximo do leite materno (“equilíbrio aminoacídico”), o qual ainda detém o melhor padrão proteico para crianças em crescimento. Assim, os efeitos obesogênicos do excesso proteico e dos aminoácidos insulinogênicos das fórmulas do passado pode ser corrigido.
Saiba mais:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3471010/pdf/1743-7075-9-48.pdf
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