Probióticos e recém-nascidos de muito baixo peso

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Prematuridade Crescimento e Desenvolvimento
Probióticos e recém-nascidos de muito baixo peso (publications)

Dr. José Simon Camelo Jr.O termo “probiótico” é utilizado desde os anos 1960 e significa “para a vida”; é atualmente usado para dar nome a microrganismos associados a efeitos benéficos em seres humanos e animais. A observação original do papel positivo representado por bactérias selecionadas é atribuída a Eli Metchnikoff, Prêmio Nobel russo, no Instituto Pasteur, em 1907: “A dependência dos micróbios intestinais aos alimentos torna possível adotar medidas para modificar a flora em nossos corpos e substituir os micróbios perigosos pelos úteis”. A esse tempo, Henry Tissier, pediatra francês, observou que crianças com diarreia apresentavam em suas fezes baixo número de bactérias caracterizadas por um formato em Y peculiar. Essas bactérias “bífidas” eram, pelo contrário, abundantes em crianças saudáveis. Ele sugeriu, em 1906, que essas bactérias poderiam ser administradas a pacientes com diarreia para ajudar a restaurar a flora intestinal saudável.

Nos últimos 20 anos a pesquisa na área dos probióticos progrediu consideravelmente com a utilização de técnicas modernas de biologia molecular e ocorreram avanços significativos na seleção e caracterização de culturas de probióticos específicos e na comprovação de alegações de benefícios à saúde relacionados com seu consumo. Bactérias dos gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium e fungos Saccharomyces são usados principalmente, mas não exclusivamente, como microrganismos probióticos em um número crescente de alimentos, fórmulas infantis, drogas/medicamentos e suplementos dietéticos disponíveis ao consumidor. O intestino representa um ecossistema microbiano dinâmico, aberto e estável em um meio ambiente em

constante mudança, contendo entre 400 e 500 espécies de bactérias no cólon. Com tal conhecimento, modernizou-se o conceito de flora, que doravante chamaremos de microbiota intestinal na saúde: dependendo da composição e das atividades da microbiota, podem ocorrer efeitos benéficos ou patogênicos para o hospedeiro, interagindo com a barreira intestinal, a imunidade inata e a imunidade adquirida do indivíduo. O interesse nessa área de investigação e comércio tem se tornado tão grande que a Organização Mundial da Saúde e a Organização Mundial de Gastroenterologia produziram, entre 2001 e 2008, extensos documentos regulatórios sobre utilização de probióticos, seus efeitos na saúde, nutrição, guias de avaliação e utilização.

Uma série de revisões sistemáticas recentes vem demonstrando as vantagens potenciais do uso de probióticos no tratamento de algumas doenças em crianças, como a diarreia aguda infecciosa, cuja evolução pode ser significativamente abreviada em um dia. Outra vantagem potencial que tem sido relatada, esta com maior impacto e relevância clínica, é a relação entre o uso de probióticos em recém-nascidos de muito baixo peso (RNMBP) e a ocorrência de enterocolite necrosante (ECN) estágio 2 de Bell ou superior. Um estudo metanalítico de Deshpande et al. (2010) que incluiu 11 ensaios randomizados controlados com placebo demonstrou a redução estatisticamente significativa da ocorrência de ECN e morte em

2.176 recém-nascidos <34 semanas de idade gestacional e <1.500 g. Confirmando os achados dos autores australianos, Wang et al. (2012) ampliaram para 20 o número de estudos randomizados e controlados incluídos na metanálise mais recente, abrangendo 3.816 RNMBP: demonstraram redução altamente significativa do risco relativo de ECN (0,33; p<0,00001) e de morte (0,56; p<0,0001), sem aumento do risco de sepse por translocação de agentes probióticos.

Há que reforçar que a melhor forma de nutrição do recém-nascido pré-termo é a utilização do leite humano cru em tempo adequado ou de banco, mas na impossibilidade desse uso os probióticos devem ser considerados como forma eficaz de prevenir e reduzir mortes ligadas à ECN. Ainda devem ser mais bem definidas as cepas e dosagens mais adequadas, além do tempo de uso.

Veja mais detalhes em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22244424

Artigo de referência:

Wang Q, Dong J, Zhu Y. Probiotic supplement reduces risk of necrotizing enterocolitis and mortality in preterm very low-birth-weight infants: an updated meta-analysis of 20 randomized, controlled trials. Journal of Pediatric Surgery 2012; 47: 241-248. DOI: 10.1016/j.jpedsurg.2011.09.064.

Mensagem Newsletter: Probióticos são microrganismos associados a efeitos benéficos em seres humanos e animais e existem atualmente evidências demonstrando redução estatisticamente significativa da incidência de enterocolite necrosante e morte em recém-nascidos de muito baixo-peso recebendo probióticos, comparados a grupos controle não suplementados.

Titulação Newsletter: Professor Associado – Departamento de Puericultura e Pediatria Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto