Posição de recém-nascidos pré-termo após a alimentação e resíduo gástrico

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Prematuridade Crescimento e Desenvolvimento Desnutrição
Posição de recém-nascidos pré-termo após a alimentação e resíduo gástrico (publications)

Dra. Elisa de CarvalhoNa nutrição de recém-nascidos pré-termo (RNPT), especialmente os menores de 30 semanas, o tempo para que seja atingida nutrição enteral plena tem sido um sinalizador da evolução desses recém-nascidos (RN), uma vez que menores tempos associam-se a menor ocorrência de distúrbios e a maior tolerância alimentar. Dentre os critérios mais utilizados na prática clínica para definir a conduta alimentar em RNPT, no sentido de indicar pausa alimentar, aumento do volume oferecido ou manutenção, encontra-se a presença de resíduo gástrico. Este, quando associado a distensão abdominal e alterações do aspecto das fezes, pode prever o início de uma enterocolite necrosante, que constitui patologia grave e importante causa de mortalidade neonatal entre os RNPT. Por outro lado, a presença de intolerância alimentar irá retardar o desenvolvimento do trato gastrointestinal e prolongar o período de oferta proteico-calórica insuficiente pela via enteral.

A identificação de fatores que possam contribuir para maior tolerância alimentar em RNPT tem sido considerada uma necessidade. Nesse sentido, vários estudos têm sido realizados com o objetivo de avaliar a influência da posição do RN após a alimentação sobre o tempo de esvaziamento gástrico e a presença de resíduo, sem que resultados muito convincentes tenham sido obtidos até o momento.

Neste sentido, o estudo de Shiau-Shr Chen e colaboradores1, publicado em 2013, acrescenta informações importantes sobre esse tema. Esses autores realizaram um estudo randomizado, com séries cruzadas no

tempo, em uma unidade neonatal de Taiwan, que incluiu 35 RNPT, com idade gestacional média de 29,75 semanas e peso de nascimento médio de 1.264,26 g, selecionados de acordo com os seguintes critérios: nascimento e evolução sem intercorrências e estáveis clinicamente. Todos receberam nutrição parenteral a partir do primeiro dia de vida e nutrição enteral no segundo dia. A oferta inicial total era de 20 ml/kg/dia, dividida em administrações a cada 3 horas por sonda gástrica. O aumento de volume foi de 10-20 ml/kg/dia. Todos receberam leite da própria mãe. Foram divididos em dois grupos: num deles a sequência de posições após a mamada foi supina-prona, com mudança a cada 3 horas, e no outro o inverso. Quando atingiam 50 ml/kg/dia e 100 ml/kg/dia, media-se o volume gástrico aos 30, 60, 90, 120 e 150 minutos. Nos dois grupos, a maior velocidade de redução do resíduo gástrico (p<0,001) ocorreu nos primeiros 30 minutos após a alimentação, mas o resíduo gástrico foi significativamente menor na posição prona em relação à supina em todas as medidas realizadas.

Tendo em vista as recomendações da Academia Americana de Pediatria em 1996 de adotar a posição não prona para RN, com o objetivo de diminuir o risco de ocorrência da Síndrome da Morte Súbita, os autores recomendam que, nos primeiros 30 minutos após a alimentação, os RNPT sejam colocados em posição prona, com mudança do decúbito a seguir, a fim de promover a tolerância alimentar. Algumas limitações deste estudo, no entanto, devem ser ressaltadas, como o fato de ter avaliado RNPT que receberam leite materno exclusivo, em volumes de 50 e 100 ml/kg/dia e apenas nas posições supina e prona.

Artigo de referência

1. Shiau-Shr Chen, Ya-Ling Tzeng, Bih-Shya Gau, Pi-Chao Kuo, Jia-Yuh Chen. Effects of prone and supine positioning on gastric residuals in preterm infants: A time series with cross-over study. Int J Nurs Stud. 2013. http://dx.doi.org/101016/ijnurstu.2013.02.009.

Veja mais detalhes em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23537895