O que pode haver de repercussão quando a escolha da alimentação complementar é gerenciada pelo bebê

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O que pode haver de repercussão quando a escolha da alimentação complementar é gerenciada pelo bebê (publications)

Dra. Christiane Araujo Chaves LeiteIntitulado Baby-led Weaning – BLW (Desmame Guiado pelo Bebê), essa forma de alimentação complementar consiste em oferecer a alimentação em pedaços e permitir que o bebê faça suas escolhas e se sirva sozinho. O método BLW foi criado pela agente de saúde britânica Gill Rapley, autora do livro “Baby-led Weaning: Helping Your Baby to Love Good Food” (em tradução livre, Desmame Guiado pelo Bebê: Ajudando seu Filho a Amar Boa Comida) e tem ganho aceitação cada vez maior.

A ideia principal é oferecer aos bebês refeição semelhante à da família e deixar que eles se sentem à mesa e participem das refeições familiares já a partir dos 6 meses de vida. Os pais colocam os alimentos cortados ao alcance dos bebês que escolhem quais, quando e como levar os pedaços à boca.

Atualmente a recomendação oficial da Organização Mundial de Saúde e do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria é de ofertar alimentação complementar ao leite materno (ou à fórmula infantil, quando o aleitamento natural não é possível) a partir dos 6 meses. Essa introdução alimentar é tradicionalmente feita com as papinhas e oferecida com colher, aumentando a consistência gradativamente até chegar à alimentação da família. Respeita-se a maturidade neurológica e fisiologia da mastigação e deglutição.

Embora muitos estudos tenham versado sobre quando introduzir alimentos sólidos na dieta de uma criança,

há uma escassez de evidências sobre o impacto de diferentes métodos de alimentação complementar em relação às preferências alimentares futuras e suas repercussões na saúde a longo prazo.

O BLW pode se adequar à maioria das crianças e está associado à redução da ansiedade materna sobre a etapa da alimentação complementar, pois consiste num estilo de alimentação cujo controle materno é menos estressante.

O artigo, que ora apresentamos, buscou correlacionar a influência de diferentes estilos de alimentação complementar sobre a preferência alimentar, índice de massa corporal (IMC) e o “comer seletivo” (pick eater) na primeira infância.

Os pais (n=155) foram recrutados através do Laboratório Infantil de Nottingham e de sites relevantes da internet e preencheram um questionário a respeito (1) alimentação infantil e estilo de alimentação complementar (BLW=92, alimentados com colher=63; faixa etária: 20 a 78 meses), (2) preferências da criança para 151 alimentos (analisadas por categorias de alimentos comuns, por exemplo, carboidratos, proteínas, laticínios) e (3) exposição (frequência de consumo). Dados de preferência de alimentos e exposição foram analisados utilizando uma amostra pareada caso-controle para explicar o efeito da idade na preferência alimentar. Todas as outras análises foram realizadas com o conjunto da amostra.

Em comparação com o grupo alimentado com colher, o grupo BLW demonstrou (1) aumento significante no gosto por carboidratos (outras diferenças em preferências não foram encontradas) e (2) carboidratos (na forma mais inteira) foram os alimentos preferidos (em comparação com os alimentos doces e açucarados, que foram a principal escolha no grupo das crianças alimentadas com colher). A relação entre a preferência e a exposição não foi influenciada pelo status socioeconômico, apesar de um aumento do gosto pelos legumes ter sido encontrado em classes sociais mais abastadas. Houve um aumento da incidência de (1) baixo peso no grupo BLW e (2) obesidade no grupo alimentado com colher. Não foram encontradas diferenças no “comer seletivo”(pick eater) entre os dois grupos estudados.

Muito embora sejam resultados animadores em relação a um possível papel na prevenção da obesidade, é importante que novos estudos, bem delineados, pareados por idade, caso-controle e com amostras maiores sejam desenvolvidos para sedimentar esses achados. Através de evidências científicas consistentes é que se tem segurança em indicar um método de alimentação complementar inovador e não apenas seguir mais uma tendência que pode ser transitória, ineficaz ou mesmo insegura e que venha a figurar como mais um modismo.

Para maiores detalhes acesse o artigo na íntegra: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22315302

Artigo de Referência:

Baby knows best? The impact of weaning style on food preferences and body mass index in early childhood in a case-controlled sample. Townsend E, Pitchford NJ. BMJ Open. 2012 Feb 6;2(1): e000298. doi: 10.1136/bmjopen-2011-000298. Print 2012