A lactoferrina previne infecções bacterianas e fúngicas em recém-nascidos de muito baixo peso

A lactoferrina é uma glicoproteína existente no leite dos mamíferos que está envolvida na imunidade natural. A lactoferrina tem uma atividade bacteriostática, protegendo a mucosa intestinal contra infecções. Um dos seus mecanismos de ação é se combinar com o ferro e diminuir a oferta de ferro aos germes que dele necessitam para se multiplicar. Entretanto, há também outros mecanismos intracelulares de estímulo à imunidade, que diminuem a agressividade de bactérias e fungos envolvidos na ação bacteriostática e bactericida da lactoferrina. A lactoferrina do leite humano protege a mucosa intestinal do recém-nascido contra infecções, entretanto a concentração de lactoferrina no leite humano decresce depois dos primeiros dias após o nascimento.
Manzoni et al., em 2009, estudaram 472 recém-nascidos pré-termos com peso de nascimento < 1.500 gramas e mostraram que, acrescentando-se lactoferrina bovina ao leite utilizado por estes recém-nascidos (humano ou fórmula), havia uma diminuição significativa na ocorrência de sepse neonatal tardia (1). Os autores sugeriram que o uso de lactoferrina bovina adicionada ao leite utilizado pelos pré-termos diminui o risco de sepse tardia.
Utilizando a mesma população, Manzoni et al. estudaram o efeito da adição de lactoferrina bovina ao leite utilizado pelos recém-nascidos pré-termos (humano ou fórmula) sobre a ocorrência de infecção fúngica invasiva (2). Realizaram um ensaio clínico randomizado multicêntrico em que 472 recém-nascidos com peso
de nascimento < 1.500 gramas foram randomizados em três grupos: um grupo fez uso 1 vez ao dia de lactoferrina bovina, outro usou 1 vez ao dia lactoferrina bovina e probiótico (Lactobacillus rhamnosus) e o terceiro grupo (controle) recebeu 1 vez ao dia placebo 2 mL de glicose a 5%. O tratamento durou 4 semanas para os recém-nascidos com peso de nascimento entre 1.000 e 1.500 gramas e 6 semanas para os recém-nascidos com < 1.000 gramas de peso de nascimento. A incidência de colonização por fungo foi semelhantes nos três grupos, mas a incidência de infecção fúngica invasiva foi significativamente menor nos grupos que receberam lactoferrina em comparação com o grupo controle. Não houve diferença entre os grupos que receberam lactoferrina com e sem probiótico. O trabalho mostra que a lactoferrina não diminui a colonização por fungo, mas aumenta a resistência à progressão para invasão fúngica.
Com base nestes estudos recentes, conclui-se que o uso de lactoferrina bovina possa ser uma estratégia importante na prevenção da sepse neonatal tardia, seja bacteriana ou fúngica.
Bibliografia:
- Manzoni P, Rinaldi M, Cattani S, Pugni L, Romeo MG, Messner H, Stolfi I, Decembrino L, Laforgia N, Vagnarelli F, Memo L, Bordignon L, Saia OS, Maule M, Gallo E, Mostert M, Magnani C, Quercia M, Bollani L, Pedicino R, Renzullo L, Betta P, Mosca F, Ferrari F, Magaldi R, Stronati M, Farina D; Italian Task Force for the Study and Prevention of Neonatal Fungal Infections, Italian Society of Neonatology. Bovine lactoferrin supplementation for prevention of late-onset sepsis in very low-birth-weight neonates: a randomized trial. JAMA. 2009;302(13):1421-8.
Veja mais detalhes: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=manzoni%20p%20AND%20Jama
- Manzoni P, Stolfi I, Messner H, Cattani S, Laforgia N, Romeo MG, Bollani L, Rinaldi M, Gallo E, Quercia M, Maule M, Mostert M, Decembrino L, Magaldi R, Mosca F, Vagnarelli F, Memo L, Betta PM, Stronati M, Farina D; Italian Task Force for the Study and Prevention of Neonatal Fungal Infections, Italian Society of Neonatology. Bovine lactoferrin prevents invasive fungal infections in very low birth weight infants: a randomized controlled trial. Pediatrics. 2012 Jan;129(1):116-23.
Veja mais detalhes: http://pediatrics.aappublications.org/content/129/1/116.abstract
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