Ingestão de ácidos graxos ômega 3 em crianças e adolescentes obesos

A prevalência de excesso de peso e de obesidade em crianças e adolescentes tem apresentado aumento exponencial nas últimas duas décadas. A obesidade resulta em um quadro inflamatório, que está diretamente envolvido na etiologia da resistência à ação da insulina, nas doenças cardiovasculares, no diabetes mellitus tipo 2 e em certos tipos de câncer. O processo inflamatório observado na obesidade — inflamação metabólica ou metainflamação — manifesta-se de forma sistêmica e caracteriza-se por uma reação crônica e de baixa intensidade. Aliado a isso, seu desenvolvimento está intimamente relacionado com o estilo de vida, particularmente com a qualidade da dieta e a prática de atividade física. A principal origem dessa resposta inflamatória sistêmica está no tecido adiposo, o qual produz uma variedade de citocinas pró-inflamatórias e de quimiocinas, denominadas adipocinas, como a interleucina 1β (IL-1β), a IL-6, o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e a proteína quimiotática para monócitos 1 (MCP-1). Contudo, atualmente, sabe-se que há outros tecidos que também estão envolvidos na inflamação, como o fígado, o pâncreas, o hipotálamo e o músculo esquelético. Cabe destacar que ao menos 50% das crianças e adolescentes obesos apresentam resistência à ação da insulina e outras alterações metabólicas, como dislipidemias e hipertensão arterial.
No tocante às intervenções nutricionais utilizadas em pacientes obesos e com síndrome metabólica, destaca-se a ingestão dos ácidos graxos poli-insaturados da série ômega 3 eicosapentaenoico (EPA) e docosaexaenoico (DHA), os quais estão presentes em quantidades significativas em peixes e óleos de peixe e apresentam efeito anti-inflamatório, além de auxiliar na redução da concentração plasmática de triacilgliceróis.
Neste contexto, López-Alarcón et al. (2011) investigaram o efeito da suplementação de 900 mg de óleo de peixe (360 mg de EPA + 540 mg de DHA) por dia, durante 30 dias, em crianças e adolescentes com excesso de peso e resistência à ação da insulina. Os autores verificaram que a suplementação de ômega 3 diminuiu significativamente a glicemia, a insulinemia de jejum e o HOMA-IR, enquanto esses parâmetros permaneceram inalterados no grupo placebo ao final do protocolo de estudo, com destaque para o grupo ômega 3, que apresentou maior concentração plasmática de adiponectina — adipocina com papel anti-inflamatório — em comparação ao grupo placebo. Em 2013, Juárez-Lopez et al. verificaram que crianças e adolescentes obesos e com resistência à insulina (HOMA-IR >3,4), quando tratados com 1,8 g de ômega 3 (1.080 mg de EPA + 720 mg de DHA) por dia, durante 12 semanas, apresentaram redução do índice de massa corporal (IMC), da glicemia, da insulinemia de jejum e do HOMA-IR, bem como diminuição da concentração plasmática de triacilgliceróis.
Recentemente, Mejía-Barradas et al. (2014) investigaram o efeito da suplementação de 3 g de ácidos graxos ômega 3 (944 mg de EPA + 2.088 mg de DHA) por dia, durante 12 semanas, associada à restrição calórica de 20% sobre o perfil metabólico e a expressão de genes no tecido adiposo subcutâneo, em 50 adolescentes com valores de IMC superiores ao percentil 95. Similarmente aos resultados observados nos dois estudos supracitados, a ingestão de EPA e DHA reduziu significativamente a concentração plasmática de triacilglicerol. Além disso, esta intervenção nutricional promoveu diminuição do IMC, da circunferência da cintura e do quadril, bem como aumento da expressão gênica no tecido adiposo subcutâneo do receptor nuclear designado PPARα, o qual está envolvido na promoção da lipólise e da beta-oxidação mitocondrial e peroxissomal de ácidos graxos.
Os resultados dos três estudos citados sugerem que a ingestão de ácidos graxos ômega 3 (EPA e DHA) pode atuar como adjuvante no tratamento de crianças e adolescentes obesos com resistência à ação da insulina. Cabe destacar que esses resultados não excluem a promoção da prática de atividade física e da ingestão desses ácidos graxos por meio da alimentação.
Veja mais detalhes em: http://link.springer.com/article/10.1007%2Fs12020-013-9941-y
Artigo de referência: Mejía-Barradas CM, Del-Río-Navarro BE, Domínguez-López A, Campos-Rodríguez R, Martínez-Godínez Md, Rojas- Hernández S, Lara-Padilla E, Abarca-Rojano E, Miliar-García Á. The consumption of n-3 polyunsaturated fatty acids differentially modulates gene expression of peroxisome proliferator-activated receptor alpha and gamma and hypoxia-inducible factor 1 alpha in subcutaneous adipose tissue of obese adolescents. Endocrine. 2014 Feb;45(1):98-105.
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