Impacto do ácido úrico na hipertensão arterial e na doença renal crônica

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Benefício da nutrição no manejo de doenças Crescimento e Desenvolvimento
Impacto do ácido úrico na hipertensão arterial e na doença renal crônica (publications)

Dr. Paulo Cesar Koch NogueiraOs seres humanos têm níveis elevados de ácido úrico sérico por dois motivos: a) excesso de ingestão de proteínas e carboidratos, com particular ênfase na frutose; b) ausência da urato oxidase (uricase), uma enzima que degrada o urato em alantoína, mas que foi perdida na evolução dos primatas e está ausente em seres humanos. Por esse motivo o ácido úrico é o produto final do catabolismo de purinas em seres humanos.

Em estudos experimentais com modelos animais o ácido úrico induz hipertensão arterial (HA), e estudos epidemiológicos mostram ligação entre hiperuricemia e hipertensão. Ademais, a associação entre hiperuricemia e declínio da função renal foi detectada em estudos epidemiológicos envolvendo indivíduos com doença renal crônica (DRC), bem como aqueles com função renal normal.

Em interessante artigo de revisão publicado recentemente os autores reportam a compilação de dados de vários outros estudos e resumem as evidências sobre o papel do ácido úrico como fator de risco de HA e de desenvolvimento de DRC, revelando os seguintes achados principais:

  • Associação entre ácido úrico e hipertensão

     

    Dados compilados de 12 estudos em adultos, reunindo 46.724 pacientes, sugerem que a hiperuricemia aumenta o risco de hipertensão arterial em 1,7 vez. Nenhum estudo revelou que o aumento do ácido úrico produz queda do risco de HA.

    Em crianças e adolescentes, dados compilados de 9 estudos, reunindo 32.149 pacientes, revelam concordância em todos os estudos acerca do aumento do risco de HA conferido pela hiperuricemia. Dois estudos que quantificaram esse aumento sugerem que o ácido úrico elevado dobra o risco de HA.

    Dois estudos clínicos avaliaram o efeito da redução do ácido úrico sérico sobre a HA em crianças. Num desses estudos o tratamento de 30 adolescentes com diagnóstico de hipertensão essencial foi realizado, comparando-se os efeitos do alopurinol versus placebo em ensaio randômico, cruzado e duplo-cego. Dois terços das crianças tiveram níveis normais de pressão arterial enquanto tomavam alopurinol. Num outro ensaio clínico, 60 crianças obesas com pré-hipertensão foram categorizadas de maneira aleatória para o tratamento, comparando-se três estratégias: a) alopurinol; b) probenecida (um uricosúrico); c) placebo. Os pacientes dos grupos de tratamento ativo (com alopurinol ou probenecida) mostraram redução acentuada na pressão arterial, com queda média de 10,1 mmHg. O mesmo tipo de resposta foi encontrado na monitorização ambulatorial da pressão arterial de 24 horas.

  • Associação entre ácido úrico e doença renal crônica

Não há pesquisas pediátricas sobre essa possibilidade, porém dados provenientes de 21 estudos em adultos, abrangendo 298.330 pacientes, sugerem que a hiperuricemia aumenta o risco de DRC subsequente. Apenas 1 estudo dentre os 21 (com amostra de 840 casos) não mostrou essa associação e 7 estudos quantificaram o aumento de risco de DRC determinado pela hiperuricemia. Curiosamente revelou-se efeito proporcionalmente maior nas mulheres (aumento de 3,4 vezes no risco de DRC) do que nos homens (aumento de 2,1 vezes nesse risco).

O efeito da redução do nível sérico de ácido úrico com alopurinol sobre a evolução da DRC foi avaliado em 8 ensaios clínicos, envolvendo 594 pacientes. Revelou-se que alopurinol produziu retardamento da progressão da DRC em 5 estudos, aumento da taxa de filtração glomerular em 2 ensaios, queda da proteinúria em 1 estudo. Em conjunto, esses dados preliminares sugerem efeito benéfico do alopurinol em pacientes com DRC em todas as avaliações.

Veja mais em:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=10.1097%2FBOR.0000000000000033