Formação da microbiota intestinal
O papel da microbiota intestinal na etiologia de diversas doenças, particularmente das alergias, foi novamente muito debatido em um fórum no 48° congresso da ESPGHAN, que aconteceu em maio de 2014, em Amsterdam.
Uma das palestras tratou do desenvolvimento da microbiota dos lactentes e os distúrbios relacionados a ele.
A melhoria das condições sociais nos países em desenvolvimento fez com que a diminuição das doenças infecciosas estivesse intimamente relacionada com o aumento das doenças que envolvem o sistema imunológico, principalmente as alergias. A natureza da microbiota é um fator determinante no aumento das doenças alérgicas, envolvendo a hipótese da higiene excessiva.
A colonização do intestino do recém-nascido passa por diferentes fases até se estabelecer, por volta de 18 meses. A microbiota flutua grandemente no início da vida, o que aumenta o risco de doenças, e a nutrição tem um papel muito importante nessa colonização.
As fases da colonização intestinal normal são:
- Ambiente intra-uterino: ausência de germes
- Fase 1: aquisição da microbiota vaginal e colônica
- Fase 2: tipo de alimentação – aleitamento materno ou artificial
- Fase 3: desmame
- Fase 4: aquisição da colonização do tipo adulto.
No ambiente intrauterino (Fase 1), o intestino do recém-nascido está livre de germes. Ao nascer, ocorre a aquisição da microbiota da vagina e cólon da mãe, vindo daí a importância da intensificação da prática do parto via vaginal em detrimento da cesariana. O aumento das cesarianas tem sido relacionado com o aumento das desordens imunológicas crônicas e também da obesidade. A microbiota de crianças após cesariana tem uma diminuição de bacteroides e aumento de firmicutes, exatamente como de ratos obesos de trabalhos experimentais.
A mucosa intestinal responde à colonização neonatal com aumento do turnover celular, aumento do número de células da lâmina própria, aumento da produção de IgA secretória e estimulo trófico para aumento da camada muscular.
Fase 2: A nutrição é um fator importante no desenvolvimento da microbiota. A existência de Bifidobactérias e Lactobacilos no leite humano é fator preponderante para proteção contra colonização inadequada do intestino por enterobácterias e, consequentemente, desenvolvimento de doenças. A colonização inadequada do intestino se manifesta na forma de disbiose, que é uma perda do equilíbrio imunológico entre microrganismos simbióticos e comensais e aumento dos patógenos, causando inflamação.
Os fatores relacionados ao desenvolvimento da disbiose são:
- Mudanças do estilo de vida, com aumento do stress e hábitos alimentares inadequados, que causam alterações na microbiota materna e, portanto, na do lactente
- Colonização do recém-nascido com exposição à microbiota hospitalar
- Práticas médicas que predispõem ao desenvolvimento de microbiota inadequada: uso de antibióticos, higiene, uso de vacinação
O equilíbrio favorece a saúde quando se consegue aumentar as células T reguladoras e TH3, que levam à supressão da resposta imunológica sistêmica (antígeno-específica) e pode favorecer a doença com aumento de células TH1,TH2 e TH17, que levam à inflamação. As células T reguladoras levam, através da supressão imunológica, à tolerância oral alimentar.
Na impossibilidade do aleitamento materno, ou ao desmame (Fase 3), o uso de fórmulas infantis é recomendado. Quanto maior o tempo de aleitamento materno e sua exclusividade até o sexto mês melhor a proteção contra infecções e alergias. A presença de oligossacarídeos no leite materno (mais de 130 tipos diferentes) e sua ausência no leite de vaca são os principais determinantes para diferença de microbiota desses lactentes. Assim, a composição das fórmulas infantis foi adaptada para mimetizar o desenvolvimento imunológico do lactente alimentado com leite materno, através da adição de oligossacarídeos probióticos e/ou prebióticos, o que aumenta o número de bifidobactérias nessa microflora. Uma mistura de galacto-oligossacarideos (GOS) e frutooligossacarideos (FOS) promove um aumento de bactérias saudáveis tornando a flora próxima do lactente em aleitamento materno, ainda levando a um aumento de IgA.
Fase 4: A aquisição da microbiota do tipo adulto ocorre entre 12 e 18 meses de idade, com a presença de mais de 1000 tipos de espécies colonizantes. A composição da microbiota intestinal não se altera significantemente após a primeira infância. Isso mostra a importância do desenvolvimento de uma microbiota saudável no primeiro ano de vida, como medida de prevenção a doenças futuras.
Referências
Walker WA. Initial intestinal colonization in the human infant and immune homeostasis. Ann Nutr Metab. 2013(63);Suppl 2:8-15.
Round JL, Mazmanian SK. The gut microbiota shapes intestinal immune responses during health and disease.Nat Rev Immunol 2009 May;9(5):313-23.
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