Distúrbios gastrointestinais funcionais

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Benefício da nutrição no manejo de doenças Crescimento e Desenvolvimento Desnutrição
Distúrbios gastrointestinais funcionais (publications)

Dra. Adriana Domingues GrazianoA dor abdominal funcional é a maior causa de dor abdominal crônica na infância e adolescência. De acordo com os critérios de Roma III para dor abdominal, os distúrbios gastrintestinais funcionais requerem sintomas por pelo menos dois meses, sem a presença de sinais de alarme, assim como exame físico normal e pesquisa de sangue oculto negativa.

A fisiopatologia envolve uma interação entre os fatores regulatórios dos sistemas entérico e nervoso central e pode estar associada à hiperalgesia visceral, redução do limiar da dor, dor referida após a distensão retal, ou a um relaxamento inadequado gástrico pós-prandial.

Pacientes com distúrbios gastrintestinais funcionais (DGIF) podem apresentar sintomas semelhantes, porém com diferentes causas. Desta forma, o manejo deverá ser individualizado de acordo com o comportamento da criança e da família, assim como dos gatilhos e sintomas envolvidos.

O esclarecimento à família de que a dor é real e que tem afetado as atividades da criança é fundamental, além de enfatizar que esta pode ser desencadeada por fatores ambientais e psicossociais. Faz-se necessário investir em modificações comportamentais, com a finalidade de aumentar a tolerância da dor, reduzir a ansiedade e adquirir habilidade em enfrentar a dor através de técnicas de relaxamento e distração. Alguns pequenos estudos randomizados comprovam que a terapia cognitiva comportamental, a hipnose e a yoga foram mais efetivos que a terapia médica convencional em reduzir a frequência e a intensidade da dor.

A identificação do gatilho da dor poderá auxiliar o manejo terapêutico. Rotineiramente, não há evidências que suportem a efetividade da dieta restritiva em pacientes portadores de DGIF, exceto quando ocorre uma correlação de sintomas com a ingesta de alimentos específicos. Neste caso, a eliminação deste alimento por um tempo delimitado deverá ser efetuada. A dieta de restrição pode resultar em deficiências nutricionais importantes, com impacto no crescimento e desenvolvimento destes pacientes.

Os principais gatilhos dietéticos incluem: lactose, frutas cítricas, glúten, alimentos gordurosos, bebidas gaseificadas ou cafeinadas, sorbitol e alimentos produtores de gás. Este último grupo envolve os FODMAPs, ou seja, carboidratos de cadeia curta (oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e poliois), que são pouco absorvíveis pelo trato gastrintestinal e rapidamente fermentados pelas bactérias do cólon, com consequente produção de gás, aumento da osmolaridade, distensão e dor abdominal.

Há alguma evidência de que uma dieta pobre em FODMAPs pode ser útil em adultos portadores de síndrome do intestino irritável. Entretanto, apesar de promissores, os estudos em crianças e adolescentes não são suficientes para que esta dieta seja recomendada.

Os probióticos podem ser úteis no manejo combinado da dor abdominal funcional, mas seu mecanismo de ação não é claro. Acredita-se que podem diminuir os sintomas gastrintestinais através da restauração do equilíbrio da microbiota intestinal, do reforço da barreira mucosa intestinal ou pela alteração da resposta inflamatória local. Ação semelhante também é encontrada com a suplementação de fibras solúveis em água.

Revisões da literatura atual evidenciam que os probióticos reduzem a dor e o score de severidade de sintomas comparados com placebo em adultos e crianças portadores de síndrome do intestino irritável.

O objetivo do tratamento da dor abdominal funcional da criança e do adolescente é permitir o retorno de suas atividades normais mais que a completa eliminação da dor. O modelo de cuidado no contexto biopsicossocial é o mais efetivo. As crianças que desenvolverem qualquer sinal de alarme deverão ser submetidas à investigação de doenças orgânicas.

Saiba mais:

http://pediatrics.aappublications.org/content/115/3/812.full.pdf+html                 

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4356930/pdf/WJG-21-3072.pdf

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