Dessensibilização oral em crianças com alergia a proteina ao leite de vaca essa e a cura da alergia alimentar

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Alergias Crescimento e Desenvolvimento
Dessensibilização oral em crianças com alergia a proteina ao leite de vaca essa e a cura da alergia alimentar (publications)

Dra. Ana Paula B. Moschione CastroAo longo dos últimos anos alguns conceitos mudaram com relação à alergia a proteína do leite de vaca. A doença está mais prevalente, e o desenvolvimento de tolerância tem sido postergado. As reações anafiláticas em pediatria são causadas, em quase 50% das vezes, por alimentos, e mais uma vez o leite é um importante agente deflagrador. Com isto, uma população maior de crianças é submetida a dietas de exclusão e torna-se mais susceptível a escapes involuntários em escolas, festas de aniversário, acampamentos, restaurantes e em uma série de situações que podem colocar a criança em risco. Por conta disto há uma comprovada diminuição da qualidade de vida. Estudos americanos avaliam que pais e crianças se sentem frustrados e especialmente preocupados com a possibilidade de um escape involuntário.

Neste cenário, a literatura médica tem resgatado a possibilidade de indução de tolerância oral através da dessensibilização. Trata-se da administração controlada e assistida de doses diárias de leite de vaca, especialmente em pacientes com quadros graves cuja tolerância está retardada. Para que se possa acompanhar o desenvolvimento dessa nova possibilidade terapêutica, é importante que se entenda que dessensibilizar um paciente em relação ao leite de vaca significa assegurar que ele consiga ingerir quantidades controladas de leite sem reações adversas, sendo obrigatória a manutenção de doses diárias de maneira contínua. Alguns destes pacientes desenvolvem de fato tolerância e ficam livres para ingerir ou não o leite, na quantidade que quiserem, sem efeitos adversos.

Este surpreendente e desejado avanço é avaliado de maneira crítica no artigo “Oral desensitization for milk allergy in children: state of the art”, publicado em 2011. Nesse artigo o autor reconhece a importância dessa proposta de tratamento e revisa boa parte dos estudos publicados. São avaliados os protocolos de dessensibilização em pacientes com alergia a leite de vaca mediada por IgE por serem justamente esses os pacientes de risco para reações adversas graves e os que permanecem mais tempo sensibilizados. O autor reconhece que muitos estudos foram realizados sem um grupo controle, avalia que os protocolos ainda são bastante heterogêneos e que frequentemente há reações adversas. Ainda pondera que, embora essa seja uma terapêutica emergente e promissora, algumas questões merecem ser respondidas antes que ela possa ser uma prática clínica rotineira: qual a gravidade da doença para a qual essa terapêutica é indicada?, qual o grau de proteção?, é necessária a uniformização de protocolos para que se possa reproduzir um procedimento envolvendo um número maior de pacientes e determinar o risco- benefício. Ao final o autor reconhece a importância deste avanço, afirma achar o tratamento promissor, especialmente para pacientes cuja tolerância parece retardar-se, mas estimula a realização de mais estudos para esclarecimento das questões que permanecem.

Veja mais detalhes em http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21986551. Referência

Pajno GB. Oral desensitization for milk allergy in children: state of the art.

Curr Opin Allergy Clin Immunol. 2011 Dec;11(6):560-4. Review. PubMed PMID: 21986551.