Alergia ao leite de vaca: O que há de novo

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Alergias Crescimento e Desenvolvimento
Alergia ao leite de vaca: O que há de novo (publications)

Dra. Cristina Miuki Abe JacobA Alergia ao Leite de Vaca (ALV) acomete cerca de 2,5% das crianças nos primeiros anos de vida. Atualmente se constata que o desenvolvimento de tolerância tem sido alcançado tardiamente, o que faz com que a dieta de exclusão do leite se mantenha por período prolongado, interferindo de forma importante na qualidade de vida das crianças. Várias tentativas têm sido feitas para detectar aquela criança que desenvolverá alergia ao LV persistente. Nestes pacientes, poder-se-ia instituir, precocemente, um procedimento que auxiliasse o desenvolvimento de tolerância ao leite de vaca.

Em 2008, Nowak-Wegrzyn et al. publicaram um artigo ressaltando que 75% das crianças com ALV toleravam o leite de vaca em preparações submetidas a altas temperaturas (180-220o), o que poderia indicar a possibilidade da inclusão de preparações processadas na dieta do paciente, facilitando assim a adesão à dieta restrita. A hipótese para esta observação seria a possibilidade da destruição de epítopos conformacionais das proteínas do leite de vaca pelo processamento utilizado.

Em 2011, um artigo do mesmo grupo relatou a evolução de crianças tolerantes ao leite processado em altas temperaturas (LPAT) em relação àquelas não tolerantes a este processamento. Cerca de 88 crianças foram submetidas a teste de provocação com LPAT e in natura. Destas, 65 toleraram o LPAT e receberam esta forma de preparação por período prolongado. A evolução dessas crianças foi relatada no artigo: 39 (60%) conseguiram tolerar o leite mesmo não processado, 18 (28%) toleraram o LPAT e 8 (12%) escolheram evitar

qualquer forma de leite. No grupo que inicialmente reagiu ao LPAT, composto por 23 crianças, apenas 2 (9%) toleraram o leite in natura, enquanto 3 (13%) toleraram o LPAT e 78% ainda evitavam leite em qualquer forma de preparação. Na comparação entre os grupos que toleraram o LPAT e aqueles reativos a esta preparação, observou-se que os pacientes que eram tolerantes ao LPAT apresentavam chance 28 vezes maior de se tornar tolerantes ao leite não processado, enquanto aqueles que incorporaram o LPAT na dieta apresentavam 16 vezes mais chance de se tornar tolerantes ao leite não processado.

Esse estudo mostra que há diferentes comportamentos entre crianças alérgicas ao leite de vaca, sendo um deles o do grupo tolerante ao LPAT. Esse grupo caracteriza aquele com ALV transitória, enquanto a reatividade a essa preparação, aquele persistente.

A adição de leite processado em altas temperaturas à dieta de restrição do grupo não reativo a este alimento parece acelerar o desenvolvimento de tolerância ao leite de vaca não processado.

A conduta de restrição total do leite em qualquer forma de preparação para todas as crianças com ALV necessita reavaliação à luz desses novos conhecimentos.

Veja mais detalhes em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21601913

Artigo referência: Kim J et al. Dietary baked milk accelerates the resolution of cow’s milk allergy in children. J Clin Allergy Immunol 2011; 128:125.