Hidratação na infância e adolescência

A importância da hidratação na infância
Água é o mais abundante constituinte do organismo. Sob um aspecto fisiológico, há mudanças significativas tanto nas necessidades hídricas e composição corpórea de água e na dinâmica dos diferentes mecanismos de regulação desde o nascimento até a adolescência.1
Sabe-se que crianças perdem maior quantidade de água através da pele para manter a termoneutralidade que os adultos. Perdas extra renais mais acentuadas são comuns no verão devido à maior superfície corpórea exposta a altas temperaturas e doenças digestórias de variadas etiologias acompanhadas de vômitos e diarreia. A desidratação é a consequência comum em crianças que, nesta situação, devem ter a reposição de líquidos e eletrólitos adequadas por meio da ingestão das soluções balanceadas de água e eletrólitos. Sem dúvida, a gestão adequada da desidratação e a possibilidade de manter a homeostase de água e eletrólitos usando soluções de re-hidratação oral marcaram uma clara diminuição na mortalidade infantil constituindo-se uma das ações mais importantes da Organização Mundial de Saúde (OMS).1
Para o pediatra o reconhecimento do estado de hidratação é fundamental devido à sua importância no estado de saúde da criança. No entanto, deve-se considerar também que líquidos podem ser veículos de nutrientes em excesso e contribuir para o balanço energético positivo na criança. A infância é o momento ideal para
construir e consolidar hábitos de consumo de alimentos e bebidas com que nos hidratamos. O conhecimento do profissional de saúde e a educação nutricional da família e escolas são fundamentais para orientação da correta hidratação com água evitando que seja veículo dos excessos nutricionais que contribuem para a epidemia de sobrepeso e obesidade infantil. 1
Recomendação de ingestão de líquidos na criança e adolescentes
As diretrizes para a ingestão de água são estabelecidas por autoridades regionais como a EFSA – European Food Safety Authority2 e o IOM - Institute of Medicine3, nos Estados Unidos3, e, em nível global, pela OMS|4. (Tabela 1)
As consequências da hidratação inadequada em crianças relacionam-se ao desempenho mental cognitivo: uma leve desidratação (1-2% peso) prejudica a função cognitiva. Estudo com crianças de 10-12 anos demonstrou que aquelas com hidratação adequada têm melhor performance da memória imediata e melhores testes de desempenho quando comparadas com crianças que apresentam alta osmolalidade urinária pela manhã (> 800 mOsm/kg).5 Desta forma, aumentar o consumo de água pura em crianças pode apoiar a memória e a atenção visual. A ingestão de 300mL de água pura pela manhã pode fazer diferença no rendimento escolar de crianças.6
Quanto à atividade física, a desidratação além de 1-2% do peso corpóreo prejudica uma variedade de funções fisiológicas como a termorregulação e o rendimento cardiovascular. Para as crianças envolvidas em atividade física regular, o consumo de água pura é a bebida adequada para hidratar antes, durante e após o exercício físico.7
Qualidade dos líquidos na rotina da criança
Apesar de todos os benefícios, vemos que o consumo de água é reduzido. Estudo de Feferbaum et al (2012)8 demonstrou que o consumo de água por crianças residentes em zonas urbanas corresponde à 31% do total de líquidos para a faixa etária de 3 a 6 anos, 33% na de 7 a 11 anos e 34% na de 11 a 17 anos.
A água é certamente o líquido que preenche todos os requisitos necessários para suprir a quantidade total de fluidos recomendada para a correta hidratação da criança. Pesquisas epidemiológicas apontam que as calorias ingeridas são significativamente menores em crianças que consomem regularmente água quando comparado a não consumidores dessa bebida. Estes resultados corroboram o estudo realizado na Alemanha, que constatou que no período de um ano disponibilizando água nas escolas foi associado a uma redução de 31% no risco de sobrepeso.9
RECOMENDE A INGESTÃO DE ÁGUA
Uma dica prática de consultório: verifique na anamnese nutricional o quanto seu paciente (em todas as faixas etárias) ingere de água ao longo do dia e mostre novas oportunidades de consumo, como antes de ir à escola, no intervalo das aulas, além de ter sempre uma garrafinha na mochila ou na lancheira. Ajude-o a tornar esse hábito frequente e se surpreenderá com os benefícios à saúde que esta simples ação promove!
Referências
- 1-Carmuega, E. Hidratación saludable. - 1a ed. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Centro de Estudios sobre Nutrición Infantil - CESNI, 2015. E-Book. ISBN 978-950-99708-4-7.
- 2-EFSA (European Food Safety Agency) (2010). Scientifi c Opinion on Dietary Reference Values for water. EFSA Journal 8. 3- IoM (Institute of Medicine of the National Academies) (2004). Dietary reference intakes for water, potassium, sodium, chloride and sulfate.
- 4-WHO (World Health Organization) (2005). Nutrients in drinking water. ISBN 92-4-159398-9.
- 5-Bar-David Y, Urkin J, Kozminsky E. The effect of voluntary dehydration on cognitive functions of elementary school children. Acta Paediat 2005; 94:1667-1673.
- 6-Edmonds CJ, Burford D Should children drink more water? The effects of drinking water on cognition in children. Appetite 2009; 52: 776-779.
- 7-Council on Sports Medicine and Fitness and Council on School Health . Policy Statement - Climatic Heat Stress and Exercising . Children and Adolescents. Pediatrics, 2011; 128: e741-7.
- 8- Feferbaum et al. Fluid intake patterns: an epidemiological study among children and adolescents in Brazil. BMC Public Health 2012; 12:1002-7
- 9-Muckelbauer R, Libuda L, Clausen K, Toschke AM, Reinehr T, Kersting M: Promotion and provision of drinking water in schools for overweight prevention: randomized, controlled cluster trial. Pediatrics 2009;123(4):e661-e667.
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